domingo, 30 de dezembro de 2007

Solidão por mais uma noite

Solidão por mais uma noite.
Pouco álcool.
Insônia, nem tão pouca.

Seu rosto tão familiar,
Desgastado pelo tempo.

Sempre me senti te traindo
Depois que você me deixou.

Eu te pedia perdão.

Depois de cada puta barata,
Paga em dinheiro vivo pelo sexo morto,
Ou de cada garota desinteressante,
Levada pra cama por não lembrar você em nada.

Com um cigarro na mão esquerda,
Pra me lembrar o que você odeia.
E um whisque na direita
Pra me provar que não importa.

Não pedia perdão para ser perdoado.
Esperava uma resposta qualquer.
Um som qualquer como prova de vida.

Sempre me senti te deixando
Depois que você me traiu.

Seu tempo tão familiar.
Seu rosto tão desgastado.

Insônia por mais uma noite.
Pouco álcool.
Solidão, nem tão pouca.

Daniel M. Laks
30/12/07

sábado, 22 de dezembro de 2007

Minhas alegrias pulsantes

Minhas alegrias pulsantes não se resumem ao teu sexo,
Tuas viagens de avião, ou caminhadas matutinas.
Não se encontram nos uniformes das meninas,
Que se imaginam a beijar um homem perplexo.

Minhas alegrias não estão num copo de cachaça
Seriam por demais sem graça.
Se pudesse imaginá-las, que estivessem à beira
Do abismo, que criamos por acreditar em tanta besteira.

Então a parte que você esconde decidiu acreditar que isso passa
E assumir de vez uma caricatura devassa
Para simplesmente sair por aí.

Eu fingi por muito tempo que não sofri
Pra disfarçar o meu desejo,
De quando você me negou o único beijo
Que eu nunca formalmente te pedi.

Mas minhas palavras mudas buscam um porque,
E meus versos tortos o próprio pulsar
Eu entendo agora que não me basta esperar,
Pois o que quero não me pode oferecer.

Daniel M. Laks
22/12/2007

Sexo e mentiras

Adoro toda beleza
Daqueles seus momentos de incerteza.
De quando mentes que sou seu preferido,
Perco-me, acho, me pedes,
E te galanteio com baixarias ao pé do ouvido.

Adoro seus beijos falsos,
Cada queda por tantos percalços,
Cada mordida forte,
Cada lambida que corte,
Cada aceleração explosiva,
Cada grito de lasciva,
Todo lubrificar da nossa saliva.

Adoro te desaprender
Pra você ter que me ensinar.
Adoro ter que me adaptar
À ferocidade do seu ajoelhar,
À sua necessidade de se alimentar,
À sua destreza em se debater.

Adoro poder te foder
Do anoitecer ao amanhecer.
E de escutar me dizer,
Que tem pressa de ir embora,
Que já passou da sua hora,
E que não sabe se me vai rever.

Daniel M. Laks
22/12/07

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Quando ela renascer

Quando ela renascer na minha vida
Minhas esferográficas estarão esperando
E cicatrizará aquela velha ferida
Que há tanto está sangrando.

Esquecerei de cada beijo frio,
Palavras falsas que acreditei.
Por entre os carros me jogarei
Pulando pedras de quando chorei um rio

Sem o vermelho de quando a fiz sangrar,
Sem o luto de quando a sufoquei.
Exibindo as asas que um dia cortei,
Porque tinha medo de voar.

Cantará alto uma melodia suave
Deixarei de lado todo meu aspecto grave.
Perderei então completamente a lembrança
Do que me fez violentar e degolar minha esperança.

Daniel M. Laks
19/12/07

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Estranhas rimas

Era o mesmo vestido branco de quando a conheci,
Nunca nos movemos no mesmo tempo,
Mas pelo menos essa vez eu conduzia.
Ela prendia minha perna entre suas cochas.

Rimávamos descaso com carinho,
Como duas palavras que se encontram,
Beijam-se por uma primavera,
E seguem, cada qual seu rumo.

Não teve cheiro nem cor,
Não foi amargo, virtuoso, frio ou poético.

Daniel M. Laks
13/12/07

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Danças do passado

Por entre imagens deformadas,
Passos marcados, olhares perdidos.
Sonhos acabados, promessas caladas,
Palavras mudas de tempos idos.

Você assim tão diferente e segura.
Dança confusa de sílaba torta,
Gosto acre doce de um ventre que corta,
A luz ofuscante de uma noite escura.

Ilusões prostitutas de uma estrela vã,
Passado congelado nos cacos de uma fotografia,
O pão de ontem para a fome de amanhã.

Receba esses versos como o beijo que me negaria.

Daniel M. Laks
04/12/07

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Cheiro de rosa e gosto de pus

O último frasquinho escondido,
Guardado de um tempo que já passou,
Com o cheiro do seu corpo contido,
Caiu da estante e quebrou.

Um odor amargo doce de passado
Tomou conta da minha sala.
Lembrou-me da rosa de espinho infectado
E palavras de mal me queres quando a boca cala.

Cortei o dedo tentando limpar o chão
Pus na boca pra me lembrar você.
Não abri a janela pro cheiro ir embora,
Mas saí porta afora pra só voltar quando te esquecer.

Daniel M. Laks
03/12/07

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Fogo arredio

Era fogo arredio,
Bicho do mato disfarçada,
Postada na minha frente ajoelhada
Como quem reza uma oração.

Seu vestido e minhas roupas misturadas.
Mal permitiu que fosse tocada.
Demonstrou todo seu domínio
De planta enraizada, santificada no chão.

A inocência pueril da pouca idade,
Sua boca na rigidez do meu desejo,
Aquele cheiro molhado de liberdade
Tatuado em sua pele, exalado em seu beijo.

Do meu prazer fez alimento
Depois se vestiu com toda calma,
Foi embora com o vento
Deixando saudades em minha alma.

Daniel M. Laks
30/11/07

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O jarro

Um jarro de vidro estava guardado na estante,
Desde a invenção do plástico ele ficou esquecido naquela estante de madeira.
Não estava vazio, tinha dentro um líquido morno e meio viscoso.
Somente o suficiente para mantê-lo de pé depois dos vendavais
que por vezes entram pela porta ou pela janela.

Mesmo para um vidro
O jarro já não era lá essas coisas.
O tempo cuidou para que escorresse,
Mas ainda não para que quebrasse.

Apesar da funcionalidade plena,
O jarro de vidro permanecia na estante,
Com líquido suficiente para não quebrar
E tempo suficiente para escorrer.

O plástico não quebra e nem escorre.
O plástico é leve e barato.
O plástico é descartável.
O plástico é moderno.

O vidro não quebra quando escorre.
O vidro quebra quando bate.
O vidro machuca quando quebra.
O vidro corta.

Plástico se joga fora.

Daniel M. Laks
01/11/07

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Vento de primavera

Sopra um vento de primavera,
Falando alto pra quem quiser escutar.
Quem nunca contou um segredo ao vento?
Esperando que o vento não fosse espalhar.

Mas o vento não guarda segredos,
E porque haveria de guardar?
Assim, as palavras proferidas
Vão ser ouvidas em algum lugar.

Eu faço esses versos infantis
Pro vento ir correndo contar
Sei bem que o tempo é cedo
E cedo o vento começou a ventar

Então, vento de primavera
Leva por entre as nuvens meu recado
Gira, sopra e diz pra ela
Que eu estou apaixonado.

Agora que eu contei pro vento
Vento começa a rodopiar
Usa de toda sua malícia
Vai a notícia espalhar

Bem sei que o vento não guarda segredos,
E porque haveria de guardar?
Sopra um vento de primavera,
E vento só faz soprar.

Daniel M. Laks
26/09/2007

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Guardado no cantinho

Não me responda nada!

Aquele sorriso já amarelou no meu rosto,
Aquele papel dobradinho,
Que eu escrevia as minhas notas mentais,
Ficou perdido, desgastado num canto.

Não me responda nada!

Deixa eu roubar seu cheiro,
Em cada passo de dança,
E guardar quietinho
Em um livro de sonetos qualquer.

Não me responda nada!

Eu gosto de você assim, burra.
Com essa inocência sonsa e muda.
Se houver de ser,
Seja o empecilho pra o novo.
Minha puta suplicante nas noites frias
E a Ártemis intocada depois do gozo.

Não me responda nada!

Meus argumentos são todos velhos,
Nosso amor sempre foi meu monólogo.
Meu riso triste, mas repleto de esperança,
E você sempre foi muda.
Eu há muito não sou triste.

Não me responda nada!

Daniel M. Laks
16/05/07

terça-feira, 8 de maio de 2007

Caminho entre extremos

Eu caminho entre extremos,
Corro entre opostos,
Muitas vezes me escondo
E de repente me mostro!

Mergulho de cabeça e peito aberto
Na malha do que não me sustenta,
Cair para mim é desespero certo
E flutuar é melodia.

Só me torno coerente,
Apesar da inconstância,
Por aceitar francamente
Cada e qual epifania.

Em ocasiões eu visto máscaras
Para esconder minha insegurança,
Mas me sinto pouco e pergunto:
Será que meu cheiro ficou mudo?
Será que meu canto ficou rouco?

Assim me desconstruo e remodelo
Entre são e louco me sustento,
Ardendo do meu próprio fogo
Eu danço, eu grito, eu sangro.

Por muito tempo eu me travo
Depois enjôo e passo,
Mar adentro eu me perco
Espaço afora me refaço.

Sempre assim tão passional
Entre cores, dentes, unhas e sabores,
Certas coisas o tempo assenta
Enquanto outras remove.

Nunca soube se é impressão
Mas meus olhos vêem mais claro
Toda vez depois que chove.

Daniel M. Laks
08/05/2007

domingo, 14 de janeiro de 2007

Sabiá

Canta, canta sabiá.
Se soubesses passarinho,
Como invejo o seu cantar.
Cada nota tão bonita
Que compõe sua canção.
E eu aqui triste e sozinho
Cantando o pranto do meu coração.

Daniel M. Laks
14/01/07