quarta-feira, 16 de maio de 2007

Guardado no cantinho

Não me responda nada!

Aquele sorriso já amarelou no meu rosto,
Aquele papel dobradinho,
Que eu escrevia as minhas notas mentais,
Ficou perdido, desgastado num canto.

Não me responda nada!

Deixa eu roubar seu cheiro,
Em cada passo de dança,
E guardar quietinho
Em um livro de sonetos qualquer.

Não me responda nada!

Eu gosto de você assim, burra.
Com essa inocência sonsa e muda.
Se houver de ser,
Seja o empecilho pra o novo.
Minha puta suplicante nas noites frias
E a Ártemis intocada depois do gozo.

Não me responda nada!

Meus argumentos são todos velhos,
Nosso amor sempre foi meu monólogo.
Meu riso triste, mas repleto de esperança,
E você sempre foi muda.
Eu há muito não sou triste.

Não me responda nada!

Daniel M. Laks
16/05/07

terça-feira, 8 de maio de 2007

Caminho entre extremos

Eu caminho entre extremos,
Corro entre opostos,
Muitas vezes me escondo
E de repente me mostro!

Mergulho de cabeça e peito aberto
Na malha do que não me sustenta,
Cair para mim é desespero certo
E flutuar é melodia.

Só me torno coerente,
Apesar da inconstância,
Por aceitar francamente
Cada e qual epifania.

Em ocasiões eu visto máscaras
Para esconder minha insegurança,
Mas me sinto pouco e pergunto:
Será que meu cheiro ficou mudo?
Será que meu canto ficou rouco?

Assim me desconstruo e remodelo
Entre são e louco me sustento,
Ardendo do meu próprio fogo
Eu danço, eu grito, eu sangro.

Por muito tempo eu me travo
Depois enjôo e passo,
Mar adentro eu me perco
Espaço afora me refaço.

Sempre assim tão passional
Entre cores, dentes, unhas e sabores,
Certas coisas o tempo assenta
Enquanto outras remove.

Nunca soube se é impressão
Mas meus olhos vêem mais claro
Toda vez depois que chove.

Daniel M. Laks
08/05/2007