domingo, 27 de janeiro de 2008

História de amor

Na janela do meu quarto ela nasceu,
Foi crescendo, se espalhando
E pros lados se lançando,
Por pouco não floresceu.

Chegou a dar um botão,
Pequeno e singelo.
Criei por ele certo elo,
Mas morreu seco no chão.

Fiquei com raiva quando o botão morreu.
Peguei a tesoura e comecei a cortar
Cada galho novo que nasceu,
Cada folhagem possível de decepar.

Imagine minha surpresa,
Quando apenas minha raiva era certeza,
Quando tudo que lhe causava era dor,
Brindou meus maus tratos com o nascimento da primeira flor.

Nasceu branca e inocente,
Rajando-se aos poucos com amarelo crescente.
Em um suspiro final antes de descansar,
Tornou-se vermelha de nunca sangrar.

Depois da primeira vieram três.
Nossa relação já estava madura,
Não havia espaço para amargura,
Não havia motivo para timidez.

Minha roseira é a história de amor que eu nunca vivi.

Daniel M. Laks
27-01-2008

sábado, 26 de janeiro de 2008

Caça palavras

Vamos cantar desculpa quente,
Luxo pra língua.
Brinca com depois,
Paixão, graça, passa.
Aniversário, criança, preguiça, surpresa, também.

Amor é melhor.
Sorria,
Pede,
Vem,
Quer mais?
Fala de perigo,
Boca, lua, bem,
Jeito quente,
Romance, segredo, cozinha.
Obrigado!

Vida, alegria,
Saborear saudade especial
Sempre.

Mas quando não faz sol,
Fogo, beijo, coração derretido, rosa.
Espera por azul maior.

Daniel M. Laks
26/01/08

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Reflexos antigos

Folhas alternadas de branco e preto,
Algum som distante e incompleto,
Um cheiro difícil de reconhecer.

Uma imagem desfocada
Por reflexos antigos.

Páginas amareladas pelo tempo,
As mesmas palavras rabiscadas
Do mesmo soneto sem melodia.

Sem botões de rosa
Ou caçadores de estrelas.
Sem dedos cortados
E corações despetalados.

Apenas minhas velhas sílabas,
Frases ao vento sem sentido
De um tempo já perdido
Que não deixou saudades.

Daniel M. Laks
17/01/08

Um último beijo

Dê-me um último beijo,
Vire as costas e vá embora.
Dessa porta pra fora
Nosso mundo é diferente.

No meio de toda essa gente
Só existe tempestade,
Beijos com gosto de ambigüidade
E medo de voar.

Mas futuramente queria te encontrar
Pra me perder de mim.
Teria a paz enfim
De nunca mais me achar.

Daniel M. Laks
17/01/08

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ela

Ela me chegou de um jeito,
Que eu já nem pensava
Ser possível se chegar.

Eu que não ousava tanto,
Prendi-me ao velho pranto
Que demorei tanto a suplantar.

E fiquei desconfiado,
Meio assustado
Com o seu olhar.

Ela riu mostrando os dentes,
Foi tão convincente
Que não deu pra acreditar.

Beijou-me com tanto fogo,
E abraçou meu corpo
Pra me confortar.

Eu que tinha tantos medos,
Guardava segredos,
Vi meu medo sufocar.

E mordi seus lábios forte,
Como quem se agarra a sorte
E não quer largar.

Quando ela foi saindo,
Eu fiquei sorrindo
Só a imaginar.

Se eu teria a coragem,
De quebrar meus muros
Pra lhe procurar.

Daniel M. Laks
15/01/08

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O silêncio que precede o trovão

Joguei meus amores no fundo do rio,
E vi se afastar lentamente.
Comecei a sentir certo frio,
E uma dor pulsando latente.

Uma chuva de verão por dentro,
Molhou minhas dores no chão.
Agora permaneço quieto,
Como o silêncio que precede o trovão.

Daniel M. Laks
10/01/08

Cavaleiro do submundo

Meu verso é negro e frio,
Do seu mundo sou o inverso.
Meu peito é um deserto vazio,
Teu grito é meu riso submerso.

Algum dia já fui sincero,
Mas isso ficou no passado.
Transformei-me durante sonho abortado,
No que sobra das flores que dilacero.

Vai embora agora.
Bate a porta quando sair.
Nunca te prometi verdades,
Sou quem prima por mentir.

Eu caminho por bueiros,
Incapaz de te amar.
Do submundo sou cavaleiro,
Aquele que procura pra nunca encontrar.


Daniel M. Laks
10/01/08

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Dama da noite

Ano novo com lembranças de ano velho,
Alguma neblina no alto da montanha.

Me da mais uma cerveja!

Sente o cheiro de dama da noite!

Esqueci que você não entende de flores,
Essa aí só dura essa noite.

Parece a gente...

Daniel M. Laks
03/01/08

Por trás das estórias que você contava

Por trás das estórias que você contava,
De um tempo que já passou.
Escondida você ficava
Sem transparecer o que se tornou.

Eu queria te perceber
Sem a roupagem de narradora,
Sem estórias de um antigo viver,
Antes do tempo de caçadora.

Mas escondida você ficava,
Em um tempo que já passou.
Por trás das estórias que você contava.
Sem transparecer o que se tornou,

Daniel M. Laks
03/01/08