domingo, 27 de dezembro de 2009

Dos rótulos das embalagens

Acho que se o telefone tocasse agora,

Abria as cortinas do quarto,

E os olhos para a ferrugem do mundo...


Álcool etílico potável

Proveniente de cereais e açúcar.

Lote vide marcação.

Validade indeterminada.

Não contém glúten.


As paredes do quarto me protegem

Da claustrofobia das esquinas.

Se eu pudesse apenas disfarçar a angústia...


Fumos, açúcares,

Papel de cigarros,

Extratos vegetais,

Agentes de sabor.


E se o telefone tocasse agora?

Sim, agora que parece tarde demais

Para entender o que não faz sentido.


Alcatrão, nicotina,

Monóxido de carbono

E um vazio sufocante

Dentro de mim.


Se fechando as cortinas

Pudesse atrair a noite,

Encurtar os dias...


Não existem níveis seguros

Para consumo destas substâncias.


Se eu pudesse,

Soprava toda a fumaça da cidade

Para bem longe das cortinas do quarto,

E corria depressa para além de mim.


Mas ainda é muito cedo

Para começar a beber,

E me sinto sóbrio demais

Para fechar os olhos.


Daniel M. Laks

27/12/2009

Das alterações da percepção

Sinto sua falta.

Está fazendo frio aqui.

Se me desse a mão,

Me entrelaçasse os dedos.

Já viu a lua hoje?

Prometo não te deixar cair.

Já viu a lua hoje?

Daqui o céu parece escuro.


Daniel M. Laks

27/12/2009

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Poema escrito com a mão direita de um canhoto

Havia tempo não bebia vodka

Com meus demônios.

Acho que quarenta por cento de álcool

Exime falsidades e fantasias.


O tão real da noite passada,

Tornou-se falso e vazio

Quando ela foi embora de manhã,

E olhar pro lado agora é ignorar o outr


Importa tanto quanto se deixa importar.

Lembra aquela frase que eu repetia?

Aquela das flores espinhentas

Que nasciam na água salgada?

Pois é, só agora fez real sentido.


De resto é vidro e arame farpado.

Aquilo que não tenho força para falar,

Nem coragem de interromper.

Esses são os versos da minha covardia.


Daniel M. Laks

24/12/2009

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Daquilo que se perde além dos sonhos

Foi quando um eu,

Que já não era mais eu mesmo

Me tomou de assalto.


Perdi a fala e tudo aquilo

Que se tornara voz.

Voltei a escrever,

Pois esqueci meu caminho

Em passos tortos.


Alguma sombra

Amarga e densa,

Daquelas que não se projetam,

Reconheceu meus olhos no espelho.


Reencontrar um eu antigo

Foi perder uma parte nova de mim.


Daniel M. Laks

23/12/2009