sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Estudos sobre a escrita caleidoscópica

Desenho de Marco Lourenço


Com tanta veementira

Na sua palavração,

Me senti conforçado

Com minhas mediderradas,

E derradeixei de acredizer em muita idéiação.


Ainda assim, embaralhamisturei tanta coisa

Nesses tempoemas embriagastos

Por nuventanias chuvociferadas.


Que agoratualmente,

Talvez completaradiamente,

Procure palavras confusadas.


Daniel M. Laks

27/08/10

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Os nós de nós

Queria escrever um poema calado,

E sufoquei o grito pra ver se escutam minha voz,

Enclausurada nesse verso acidentado, sifilítico e atroz.


Queria falar de tempestade, de automóvel ou de represa.

Dizer que trago areia nos meus olhos de enseada,

E, de repente, dizer pra essa gente que hoje estou de madrugada.


Queria sozinhar pelos cantos,

Dilacerar meus desencantos,

Meus desabraços.


Para ver estilhaçar o traço

Que a asa quebrada da ave desenhou no céu.

Pois hoje acordei esfumaçado e opaco

Como planta carnívora, água salgada ou folha de papel.


Daniel M. Laks

20/08/2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Esqueci o nome entre folhas rabiscadas de papel. Eu hoje queria escrever alguma coisa, não sei bem o que. É um movimento muito parecido com ligar a televisão e começar a trocar de canal até encontrar um, ou dois, ou três programas que agradem nos momentos de neblina. O problema é que a caneta teima em suspender o gesto, e minhas veias estão sujas de álcool, e minhas frases tão sujas de tinta. Alguns dias acordam com uma lógica inútil na minha maneira de alienar o dia, como imaginar que graficamente a cor da sombra deveria ser azul, o contrário da luz, ou imaginar o maior número de possíveis metáforas para essa fragmentação do cotidiano que eu passei tanto tempo sem conseguir entender como a estética atual. Eu hoje vim andando pra casa e comecei a reparar nos carros, nas esquinas, nos edifícios e depois de apertar bem os olhos, finalmente consegui enxergar alguma beleza nos pedacinhos estilhaçados. Na verdade, acho que eu deveria escrever algo mais rabiscado, martelar alguns versos antigos, como um quadro na parede ou uma lembrança presentemente indesejada. A ideia de desenhar as letras como quem rasga uma colcha de retalhos me intriga de uma forma sedutora nesse momento.

Daniel M. Laks

12/08/2010