quarta-feira, 23 de junho de 2010

A confusa memória das palavras


Algum dia plantarei um livro,

Escreverei um filho,

E farei uma árvore.

Agora me prefiro mal passado.

Por você sinto muito.


Daniel M. Laks

23/06/2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Legião é o meu nome, porque somos muitos

A partir de hoje não permito mais que você use meu corpo pra rezar a noite, meus olhos pra chorar durante as manhãs, ou meus dedos para fuzilar palavras. Você com toda a metafísica e o esoterismo, não sabe que eu sou ateu, pacifista urbano e defensor voraz das folhas de papel? Não aturo mais o egoísmo do falseamento do sujeito das suas expressões em pronome pessoal reto singular, porque essa sua insistência numa autocomiseração melancólica reflete diretamente em mim. Não que eu me interesse por literatura, pela dinâmica da transformação das cores, ou qualquer outra bobagem dessas que você respira, mas pelo simples motivo que quando você evapora entre os fios de bordado das suas fantasias inalcançáveis, sou eu que permaneço com os dentes juntos, o rosto tenso e os olhos quase abertos.


Daniel M. Laks

21/06/2010

sábado, 19 de junho de 2010

Sobre arapucas e goiabeiras

Desenho de Marco Lourenço


Acho que quando meus olhos escorreram

Desbotaram um pouco a cor da noite.

Tentei pintar as paredes de vermelho,

Comprei lâmpadas novas pro banheiro,

Mas a lua continuou a murchar

Até desaparecer no arquipélago de estrelas fugazes.

Nesse momento não pensei no movimento das marés,

Não recorri a fotografias, desenhos, pessoas,

Ou qualquer outra coisa descartável.

Era eu criança capturando insetos verdes,

Em potes de maionese furados a faca.

Porque o teatro de sombras só tem graça com muita luz,

E é sempre mais fácil ser confuso que sincero.


Daniel M. Laks

19/06/2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Algo entre um desabafo e um poema


Nasci numa época sem oráculos,

Sou do signo da ausência de significados restritos.

Nunca encontrei o poço que reflete o céu,

E tenho uma incrível admiração por pequenos insetos,

Seres quase humanos, como nós.

Não possuo cicatrizes de lágrimas,

Ou momentos de desespero eventual.

E nesse momento,

Desejo algum tipo de pureza em mim:

Uma dose para o meu Deus interno

E três pros demônios em volta.


Daniel M. Laks

16/06/2010