quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Quase um drink mexicano

Seu sorriso azedo nos meus lábios salgados.

Meu corpo desperdiçado no teu corpo desperdiçado
No meu corpo desperdiçado no teu corpo desperdiçado
No meu corpo desperdiçado no teu corpo desperdiçado
No meu corpo desperdiçado no teu corpo desperdiçado.

Até que de tanto repetir-se
Tudo perde o sentido:
As palavras Os corpos O gesto O desperdício.

Aí você vai embora,
Bate a porta
E me deixa a céu aberto

Daniel M. Laks
23/11/2010

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

De iniciar conversas gravadas Mastigar balas de hortelã Observar lagartixas mariposas esperanças E de repente até volto a tocar em vinil Meus próprios sonhos de cacos de vidro Eu já de tarde todas as manhãs Eu pirata palhaço folião Eu maremoto repetido das mesmas metáforas Eu leitor voraz de linhas de horizonte Eu com personagens que não me vestem bem Eu que viajo Eu que sincero Eu que escrevo como quem se corta Eu que sussurro súplicas á mão pesada Eu que trago um silêncio sufocado toda vez que grito Eu que deixo recado quando vou embora


Daniel M. Laks
21/02/2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Brincou de rodar a caneta entre os dedos como se assim conseguisse movimentar a roda dentada de suas ideias. Olhou pros lados tentando imaginar uma melodia qualquer, enquanto apertava os lábios ainda levemente salgados de silêncio. Fechou a mão com a força de quem sufoca deuses ou espreme o último sumo de um pensamento incompleto em busca da primeira linha. Como se puxar a primeira linha fosse desfiar o poema inteiro na folha de papel, ou expor suas costuras mais internas, dessas que podem ser cortadas com tesoura cega ou ponta de canino e pronto, deixaria de se sentir pesado de rascunhos que não cansam de engordar suas esperanças inseguras. Bordou caprichosamente letra por letra um recado que trazia espremido, quase desabotoado do peito: – Rasguei minhas folhas de papel/Porque quero a cidade que existe dentro do teu corpo:/Dos cavalos sem rédeas e tempestades com sede de saliva/Derramadas nas entrelinhas dos nossos olhares desencontrados./ Hoje eu Fliperama/ Decidi sair correndo – em rota de colisão –/Com tudo que é prédio, trânsito, baralho,/Mitologia e blues em mim. –. Depois pousou o carretel delicadamente ao lado da taça de vinho, tomou um gole para colorir o canto da boca de vermelho e riscou á faca toda sua sinceridade da folha de papel. Ultimamente, vêm se dando conta que suas verdades brutas se repetem em elipses digressivas demais para que a intenção irmane o gesto.


Daniel M. Laks
11/02/2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Já dobrei rasguei passarinhos de papel
Com cuidados desdenhosos
E aprisiocolecionei insetos verdes
Em potes de maionese em peitos furados a faca
Já criei novos mesmos versos antigos tão diferentes
Pros momentos de frio quentes demais pras palavras
Que nascem mortas nos pedaços inteiros de papel de pão
Que ofereço meus precipícios atropelados
Por postes de luz fria que se fingem de lua
Em troca de outra língua voz
Na minha caixa de lápis de cor
E o último primeiro verso
Da minha metralhadora máquina de escrever
----<Poesia interrompida>-------


Daniel M. Laks
01/02/2011