sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Fogo arredio

Era fogo arredio,
Bicho do mato disfarçada,
Postada na minha frente ajoelhada
Como quem reza uma oração.

Seu vestido e minhas roupas misturadas.
Mal permitiu que fosse tocada.
Demonstrou todo seu domínio
De planta enraizada, santificada no chão.

A inocência pueril da pouca idade,
Sua boca na rigidez do meu desejo,
Aquele cheiro molhado de liberdade
Tatuado em sua pele, exalado em seu beijo.

Do meu prazer fez alimento
Depois se vestiu com toda calma,
Foi embora com o vento
Deixando saudades em minha alma.

Daniel M. Laks
30/11/07

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O jarro

Um jarro de vidro estava guardado na estante,
Desde a invenção do plástico ele ficou esquecido naquela estante de madeira.
Não estava vazio, tinha dentro um líquido morno e meio viscoso.
Somente o suficiente para mantê-lo de pé depois dos vendavais
que por vezes entram pela porta ou pela janela.

Mesmo para um vidro
O jarro já não era lá essas coisas.
O tempo cuidou para que escorresse,
Mas ainda não para que quebrasse.

Apesar da funcionalidade plena,
O jarro de vidro permanecia na estante,
Com líquido suficiente para não quebrar
E tempo suficiente para escorrer.

O plástico não quebra e nem escorre.
O plástico é leve e barato.
O plástico é descartável.
O plástico é moderno.

O vidro não quebra quando escorre.
O vidro quebra quando bate.
O vidro machuca quando quebra.
O vidro corta.

Plástico se joga fora.

Daniel M. Laks
01/11/07