sábado, 30 de dezembro de 2006

Jokana Baishu

No dia em que fui maré,
Conheci a moça
Que com a lua se escondia.

Foi atração tão magnética,
Em ondas tão herméticas
Que ela própria regia.

Mas as minhas investidas,
Que em espuma diáfana se perdiam,
Procuravam o mesmo vento
Que moldava seus cabelos.
Só de sentir seu cheiro
Já me arrepiava os pelos.

Depois a noite sempre acabava
E a moça se escondia.
Sem tempo de receber a flor de açucena,
Que eu trazia pra enfeitar sua pele morena,
Que a luz da lua resumia.

Agora ela bóia tão fria no céu,
E eu fico aqui lembrando,
Daquela que nunca tive
E que me inspirou esses tristes versos
Num pedaço de papel.

Daniel M. Laks
30/12/06

terça-feira, 3 de outubro de 2006

O botão

O botão é uma rosa
Emocionalmente indisponível,
Entrincheirando o seu perfume
Na alternância de suas pétalas.

O botão é uma rosa
Intangível àqueles que colhem,
Utilizando suas sépalas
Para proteger seu pólen.

O botão é uma vagarosa dança,
Uma melodiosa esperança
De ser rosa.

Alheio caminho, sofreguidão,
Faceta de flor atrás de cada espinho,
Abre mão de ser rosa para ser botão.

Eis que encontra uma mão carinhosa
E se permite abrir aos pouquinhos,
Nunca perde seus espinhos
Mas sem perceber torna-se rosa.

Liberta então o seu perfume,
Seu pólen não recorda nenhuma dor,
Ela agora abre mão de ser botão
E se reconhece como uma linda flor.

Daniel M. Laks
03/10/06

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Entre tantas bocas descartáveis

Entre tantas bocas descartáveis,
Tantos olhos de carbono,
Alternam-se sístoles e diástoles
Compondo percepções em milisegundos
Do crepúsculo magenta
Que engarrafa a nau da tarde.

Ergue-se a lua dissonante,
Vestida de gala
Em quarto minguante
Enquanto a corte de estrelas cala.

Aqui jaz o tempo,
Aqui todos os espelhos são cegos,
Aqui os versos são paredes,
Daqui nasceu o vento
E todos os cometas vêm pra cá quando dormem.

Meu lirismo canta em retalhos
Quando a noite grita em silêncio.

Daniel M. Laks
27/09/06

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Me desculpe sair assim

Me desculpe sair assim
Mas para dizer a verdade
Hoje só me resta a saudade
Do que tiraram de mim

Te digo, pra ser sincero
Que o que um dia fui
Voltar a ser não espero
E o que penso e espero não mais influi

E pra ser honesto
Após a nossa divisão
Tem coisas que já não me presto
E o que me sobra é o resto
Da cinza da nossa paixão

E se seu nome ainda sopra no vento
Que ele te leve pra bem longe
E a vida me traga o ungüento
Pra aliviar o sentimento
Que um dia chamamos de amor.

Daniel M. Laks
31/08/06

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Lembrança

Ainda lembro da minha mão na sua cocha,
E dos meus dentes na sua carne...
Lembro da minha língua e da tua língua,
E de como a sua mão me prendia quando você ia voar.

Você também sonha com o nosso abraçar?
O momento em que nos calávamos te trás nostalgia?
Será que eu continuo te inspirando poesia?
Será que me envergonho e seria melhor calar?

Eu amo a passionalidade das uvas vermelhas!
Fortes como um tango argentino.
Eu sinto o gosto dos seus lábios em Dionísio,
Eu sinto o cheiro do seu sexo jamais engarrafado.

Eu até hoje me sinto sufocado!
Será que algum dia você volta?
Será que você se vê do meu lado?

Daniel Marinho Laks
25/08/06

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Inspirado em Neruda

Tem nos olhos cor da lua quente,
Entre as violetas coroadas de espinhos
Ergue a forma esculpida reluzente
E se espalha em pólen pelos caminhos.

Cheiro molhado de pão e tulipas,
Raiz de fogo que se espalha em centelha,
Toda lagarta ganha asas um dia
Mas sem torpor de mel inveja a abelha.

Então espalha vermelho com seus passos,
Morde lábios, faz neblina,
Cria estrelas pela rua.

Depois abraça com seus braços
E foge dos encalços.
Já é manhã, se esconde lua!

Daniel M. Laks
08/06/06

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Passarinho

Voa voa passarinho,
Bate as asas, sai do ninho
Voa norte, voa sul
Dribla as nuvens, caça estrelas
Se perde na imensidão azul

Só suas asas passarinho
Te carregam na jornada
Morde as flores, tira a seiva
Vai embora,
Sobra nada

Mas se um dia passarinho
Construir um novo ninho
Pra fazer sua morada
Lembra sempre passarinho
Que no seu antigo ninho
vive a flor despetalada

Daniel M Laks
25/05/06

quinta-feira, 9 de março de 2006

Dessas pessoas

Você é dessas pessoas
Que não respondem ao amor
Só responde a rejeição

É só agora eu percebo
O nosso tempo foi em vão

Você assim tão passional
Paixão é sempre transitória
Desperdiçamos sentimentos
Não vivendo a mesma história

O nosso amor morreu na estrada
Foi tanto plano
E deu em nada

Chego a pensar se foi bonito
Nem mesmo sei se eu ainda acredito

Mas siga sem se preocupar
Não precisa mais pensar
Você tomou a decisão
Partiu em busca de uma nova ilusão

Agora falta aprender
A diferença entre amor e paixão

Daniel M. Laks
09/03/06

sexta-feira, 3 de março de 2006

Descrição

Me descrever?
Gostaria de não traçar paralelos entre o que amo e odeio,
ou usar paráfrases, anáforas, metáforas nem nehum artifício sintático, lunático, somático...

Sou, como qualquer um que conheço,
uma tendência à mediana dos meus próprios extremos,
resultado da relação entre oportunidades e tomadas de decisões.

Inconstante,
muitas vezes incoerente,
mas sempre mutável.

cambaleando, caíndo e levantando.
Sigo!!!!!
Engulo meus prantos sorrindo
pois a melancolia pra mim é o pior caminho.

Daniel M. Laks
03/03/2006

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Cansado de esperar

Eu já estou cansado
Desse jogo de esperar
Sozinho no meu quarto
Sem saber se vai voltar

Acontece que agora
Você é independente
Me consome com o seu sexo
E sorrindo segue em frente

Escuta agora
O que eu tenho a te falar
Meu amor
Eu já estou cansado de esperar

Você degusta confusão
Por homeopatia
Eu me esvaio em depressão
Choro noite
Choro dia

Acontece que agora
Estou cansado de sofrer
Me deleito com seu corpo
E sinto falta de você

Escuta agora o que eu tenho
A te falar
Meu amor
Eu já estou cansado de esperar

Daniel M. Laks
17/02/06

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Linda Rosa Louca

Meu coração bate mais forte
quando eu te vejo
e me sobe uma ânsia,
análoga a um desejo

Que se manifesta no exato momento
que precede o primeiro beijo
e se torna segredo
quando mergulho no seu corpo

Ah! será que meu grito ficou rouco?
será que nos resumimos em penetrações ardentes?
será que do que fomos só restou o poente?

Mas sua boca vermelha de felação
contrasta o lirio branco pele
e teu cabelo faz negra moldura
em tudo o que te desconstroi ou desnatura

Assim, ao te penetrar, rosa louca
eu percebo que não rompes vinculos
me pedes juras e me traz na boca
e por tanta incoerência
que te chamo em definitivo
linda rosa louca!

13/02/2006

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Lágrimas

Seus olhos tão castanhos
Que tanto choravam
Não são próprios para a dor
E partiram em busca de alegria

Suas lágrimas
Vieram pros meus olhos
Que agora choram
Noite e dia.

Daniel M. Laks
12/02/06

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Agnóstico

Exu de Fá traçou o destino
E intercedeu direto a Xangô
Oxum se empenhou na árdua tarefa
De unir dois caminhos em um amor

Yemanjá agitou o mar
E do vento fez-se onda
E da onda silêncio
E do silêncio areia

Agora a areia
Me escorre das mãos
Como se Loki errasse de mitologia
E me tirasse a pedra
Que já foi coração um dia

Nesse momento
Apenas Cronos
Poderá me trazer
Diana de volta

Daniel M. Laks
09/02/06

Chuva

Eu ando pela rua
E vejo a chuva caindo
Com cada gota refletindo
Um prisma de cores

Mas ainda é chuva

As pessoa correm
Pras marquises
Apressadas, preocupadas
E eu vejo as cores

Mas é só chuva

Será que sobra cor
Quando a chuva acaba?
Será que sobra azul, vermelho,
Amarelo e branco?
Ou será que sobra nada?

Daniel M. Laks
09/02/06

Resposta também sem sentido

O sentido dos teus poemas
Não está na minha dor
E se te nutres de ressentimento
Ainda me cultivas amor

Não há sombra sem luz
Tampouco aprendizado sem labor
Espera o tempo decidir
Se sois espinho ou ainda flor

E deguste da vida
O prazer de cada tragada
Pois só então poderá saber
Se somos tudo
Ou somos nada

Mas mesmo que não queiras
Minha alma é tua
E me perdoa se a pergunta
Soar um tanto crua:

Aceitas meu amor, sem limites por convicção?
Ou vives seguindo em frente
Substituindo a ilusão?

Daniel M. Laks
09/02/06

A rosa

Molhei minha pena
Em lágrimas para
Escrever com sentimento

E peguei o último espinho
Da flor que guardei na sombra
Pra me sangrar

Suas pétalas eram turvas
Manchadas pela forte mágoa
Negra pelo tempo
E por desilusão amargurada

Mas meu sangue a fez pulsar
E revelou uma única pétala amarela
Tão doce e delicada
Tão machucada e singela

Agora não sabe se quer meu sol
A rosa negra de pétala amarela
Enxerga apenas confusão
Na névoa que circunda ela

Daniel M. Laks
09/02/06

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Palavras ao vento

Eu sou um idiota
Tenho tantas certezas
E tão poucas são certas

Falo tão articulado
Sem expressar o que quero

Então amor,
Filtra minhas palavras
Beba apenas os meus
Mais puros sentimentos

E esteja por perto
Enquanto indecisa
Não se afasta não
Me corta as correntes
Voa comigo

Daniel M. Laks
06/02/06

Amor e vício

Você me diz que é vício
Não amor
E que enquanto eu esperava
Você superou

A semelhança entre o
Vício e o amor
É que ambos continuam na gente
A diferença?
Somente a pureza do que se sente

Me dá teu fogo
Evapora minhas lágrimas
E se nada mais te faz arder
Se permite chegar perto
Deixa eu te acender

Se é amor
Vem pro meu lado
Se é vício
Me deixe embriagado
E estaremos de braços dados
Como dois viciados
Então aliviados
Mas se não for nada
Me esqueça!

Daniel M. Laks
06/02/06

Compasso

O compasso do meu poema é o descompasso
O compasso do meu coração fibrilação
O compasso do meu passo é estático
E nesse passo,
Passo a pensar no que sobra.

Da madeira queimada resta o carvão
Que nunca é em vão tentar reacender
Da árvore seca com murchas flores
Resta a semente de uma nova árvore
Que passa muitos ardores para desenvolver

E das cinzas resta o passaro
E do vento o vôo
De mim resta toda a solidão
Que a sua ausência causa
Nos pedaços derramados
De um triste coração.

Daniel M. Laks
06/02/06

Toma

Toma as minhas lágrimas
Eu agora sou um triste
Veja se acende o fogo
Que as tuas apagaram?

Toma os meus poemas
Eu agora sou um poeta sem musa
E pior ainda
Um poeta que não quer outra musa

Toma a minha alma
E todo o meu espírito
A minha mão é muito pouco
Pra te confiar

Toma o meu amor
Com todo o meu fogo
Aquele que você tanto
Ansiou arder

E veja se acende
As cinzas que sobraram

Me toma por inteiro
Por que te quero por inteiro
E não me quero
Sem você

Daniel M. Laks
06/02/06

Secura

Todas as flores que eu olho murcham
E todos os pássaros que eu tanto aprecio
Morrem com um simples espiar

Minhas asas foram cortadas
No justo momento
Que aprendi a voar

Meu fogo queima ardente
Em um coração despedaçado
Não quero seguir em frente
E nem posso me segurar no passado

Justo agora que o chão
Se abre na minha frente
Não tenho asas para voar
E caio gritando o seu nome
E me consumindo
A te esperar me segurar

Nesse momento invejo os bêbados
Sua bebida os embriaga
E permite fantasia
Das lágrimas que bebo
Destilo apenas dor e mais lágrimas

Daniel M. Laks
06/02/06

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Gosto e cica

Que ardência as sua coxas
E que sabor de fogo.
Inebriado por teu toque,
Me sinto vendado por um delicado véu,
E escorro por teu ventre
Como o suor latente
Sendo uma abelha carente
A degustar o seu mel.

E que lindos teus seios
a apontar para cima,
Para a luz que ilumina
Teu corpo desnudo.
Das palavras fico mudo
E para que as asas
Se vôo pelo mundo?
E pra que as pernas
Se flutuo pelo céu?

Só a gente sabe
O quanto é lindo
Sentir nossos corpos
Se unindo,
Eu nesse momento estou sorrindo
Mas só eu sei o quanto é triste
Eu ficando e você saindo.
Nesse instante de solidão
Nem a paz da nossa união
Em meu coração persiste.

Daniel M. Laks
02/02/06