terça-feira, 31 de março de 2009

Lampejos

Tem melodia no olhar calado,
O rapaz que caminha pelas diferentes pinturas.
E transpassa a prisão das molduras
Pra se perder sem ter se achado.

Mora no rastro de uma busca antiga,
Esconde nas crenças sua mais sincera mentira.
Nas incertezas da vida se abriga,
E da perfídia alheia extrai o ar que respira.

Quando nada faz, a todos cativa.
Quando muito se doa assusta.
E passa seu tempo assim à deriva,
Distribuindo lampejos do que mais lhe custa.

Daniel M. Laks
31/03/2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

Resposta à moça dos muros

Meus contos de fada
Nunca tiveram final feliz,
Dos meus romances
Fui apenas anti-herói.

Atravessei páginas
De longas estórias repetidas.
Fui o asno de penas,
Que pensava poder voar.

Queimei toda matéria
Do meu mundo imaginário.
Esqueci o nome verdadeiro
Das musas que não se personificam.

Agora busco figura palpável.
Algum reflexo de um ser real
Entre os tijolos da moça dos muros.
Hoje procuro o que nunca perdi.

Daniel M. Laks
27/03/2009

terça-feira, 24 de março de 2009

Se algum dia eu for poeta

Se algum dia eu for poeta,
Moça esteja certa,
Que te escrevo verso ou algo assim.
Com rima e forma concreta
Pra te falar de coisa incerta,
E te fazer zombar de mim.

Prestaria atenção pra retratar
Unhas afiadas e suavidade no olhar.
Daria à noite um tom acentuado,
E talvez descrevesse seu jeito felino,
Com um blood Mary apimentado,
Pra melhor compor o figurino.

Falaria que tem mais lirismo nos versos
Que nas buscas dentro de mim.
E poderíamos rir das rimas concretas,
E dos formatos dispersos
Das pessoas incertas.
Se algum dia eu for poeta ou algo assim.

Daniel M. Laks
24/03/2009

terça-feira, 17 de março de 2009

Papel de parede

Palavras desenhadas
No papel de parede
Em arranjo conciso
Pro silêncio demarcar.

Tom sobre tom,
Pra colorir seu olhar,
Disfarçado atrás
Dos óculos escuros.

A moça tem muitos muros.
Tem equilibrista
Na corda bamba,
Malabarista no sinal.

Ela caminha pelas calçadas,
Esboçando um ar casual,
Indiferente a suavidade concreta,
Que precede caminhos futuros.

Fora do papel de parede,
Sem corda bamba,
Malabaristas no sinal,
E muros.

Daniel M. Laks
17/03/2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Imagem

Nunca aprendi a catar feijão,
Os meus versos têm pressa.
Debaixo dessa armadura,
Sou em carne viva.
Às vezes reflexo,
De uma imagem compulsiva,
Escárnio das buscas que me curvo.
Sou aquele que tem olhos claros,
Mas enxerga turvo.

Daniel M. Laks
06/03/2009