quinta-feira, 30 de julho de 2009

Fragmento do portal de entrada do vale das sombras

Onde houver fogo seremos gasolina,

E a ausência de voz em todo grito.

Seremos a verdade por trás de todo mito,

E a distância do vale à colina.

Seremos a paz de quem lucra com a guerra,

O preço da bala e o custo da vida,

O acerto daquele que sempre erra,

A crença daquilo que se duvida,

E do caminho o passo primeiro.

Mas seremos apenas desperdício e impaciência,

A parte mais humana de toda a violência,

E o resto de tudo aquilo que não se faz inteiro.


Daniel M. Laks

30/07/2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sobre versos, Deuses e ninfas

Alguma fala inacabada

E dois copos pra brindar a ironia.

Entorpecentes pra acalmar a noite,

E otimismo em gotas pra aturar o dia.

Intensidade desperdiçada

Nos versos consumidos pela brisa pouca,

E quando Eco morreu nas montanhas

Restaram apenas as respostas gastas

De uma fria voz sem boca.


Daniel M. Laks

28/07/2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fisiologia dos corpos celestiais

Minhas mãos estão vazias

Como o que limita a ilusão.

Descompassos e pequenas arritmias

Compõem batidas frias no meu coração.

O ar é refeito e fujo dos raios das manhãs,

Espreito na sombra da noite escura

A imagem que configura o sexo das maçãs.

E quando o azul dos meus olhos escorre,

Persigo qualquer colorido que borre

Minhas olheiras dos instantes de agonia,

Nas mentiras do livro de cabeceira,

Ou nos cantos de comodismo que disfarçam a fotofobia.

Mas quando chegar o dia em que me sinta quebrado e farto,

Abandonarei as peças desse sonho infecundo

Na vibração das rajadas de um vento acelerado,

Ou na penumbra do quarto que disfarça a claridade do mundo.


Daniel M. Laks

22/07/2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Quando um dia fará sentido

Nunca entendi como a canção termina.

Talvez queiramos apenas algo de falso,

Qualquer ensejo que disfarce

Um ser quebrado e solitário.

Uma superficialidade de reflexo futuro,

Ou qualquer idéia pré-concebida

Para enganar a falta que toma conta

Quando o presente escorre.


Daniel M. Laks

20/07/2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Último poema pra Ana Tereza

Não me procure mais.


Você sempre tão vaga

E eu dizendo tanto

Acho que faltam palavras novas


Não me procure mais.


Conto as horas pra te encontrar

Como quem busca se perder,

Depois, quando não me acho

Quero e não quero nunca mais te ver


Não me procure mais.


Imaginar já não sustenta,

Odeio quando me declamo

E age como se fossem versos.


Não me procure mais.


Ás vezes me faz bem,

Mas acho que me faz mais mal.

Isso é tudo e o resto.


Não me procure mais.


Daniel M. Laks

15/07/2009