sábado, 20 de dezembro de 2014

Porque os judeus passaram 40 anos no deserto? Por que cada hora era um que levantava e dizia que era ele que sabia o caminho pra sair dali.

Um judeu perdido em uma ilha deserta constrói duas sinagogas: uma é a que ele frequenta e a outra é a que ele nunca mais vai por os pés.

Eu me lembro dessas duas piadas da minha infância, desde sempre. Acho que são anedotas do livro “Humor Judaico – do Éden ao divã”, mas não sei bem se são. Eu contei como me lembrava, como ficaram em mim desde sempre. Ficou na cabeça de serem do livro, mas talvez tenham sido contadas pelo meu pai ou pelo meu avô. Ou então eu ouvi nesses lugares de sempre. Isto aqui não é um documento de autoridade que está sempre preocupado com leis autorais e genealogias de propriedade. Não importa mais do que saber que são piadas antigas e recolhidas por alguém, que fazem parte de uma antologia de humor judaico desde sempre. E são piadas que eu me lembro desde muito, desde um tempo que agora me parece sempre. Porque o sempre é sempre algo que parece e porque o sempre também sempre muda. E sempre que a gente traz sempre com a gente, a gente vai descobrindo coisas diferentes dentro da mesma coisa. Sempre. Acontece sempre. E aí, agora que eu escuto tanta gente falando “que os judeus fizeram ...” (isso) “os judeus fizeram...” (aquilo). “Os judeus sempre...” Eu sempre lembro das duas piadas e me pergunto: e todos concordaram uns com os outros? Concordaram sempre? Eu penso também nessas piadas sempre que eu escuto alguém, dentro da comunidade judaica, dizendo que precisamos de uma única voz para nos representar enquanto judeus, cada vez mais, talvez para sempre. Essas duas piadas, para mim, sempre falaram de pluralidade de pensamento dentro do pensamento judaico. Sempre falaram da possibilidade de discordar do outro como fundamento. Isso sempre me fez ver a minha herança judaica como um direito ao meu modo de ver o mundo. E sempre que conheci um judeu normativo eu pensei que ele não sabe de nada, quem sabe o caminho pra sair do deserto sou eu e eu nunca mais quero colocar os pés na sinagoga que esse senhor frequenta! E olha que não foram poucos os que eu conheci e os que conheço desde sempre. E desejo sempre que possam sempre discordar de mim, para sempre. Por que é a pluralidade que nos define, desde sempre. E não é um Estado, uma política, um exercito, uma guerra que vai falar por todos nós. Isso nunca! 


Daniel M. Laks
20-12- 2014

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