segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Nos corredores do não pertencimento

Repara bem, eu não sei que lugar é esse,

Mas não é o que eles dizem ser.

Escuta, o som da rua se repete.


Me dá um cigarro?

Eu parei de fumar.


Eu estou bem, acho que tenho leucemia

E problema no coração.

Avô, vê lá que remédios vão me dar.


Não, não Gustavo, aí não pode entrar.

Só quando a moça chamar.


Me dá um cigarro?

Eu parei de fumar.


Vem pra cá filho, vem.


Minha vida começou em 1981.


Olha avô, lá ninguém tinha amigos.

Se alguém fosse amigo, dava uma bola

Pros quatro meninos brincarem.

Eu vi, eles brincavam com pneu e arame.


Foi em 81,

Quando o ônibus matou minha mulher

E me tirou minhas filhas também.


Não, não, à força não!

Eu vou chamar a polícia.


Vocês fazem o que?

Vocês estudam?

Estudam o que?


Tem dez anos que eu estou aqui.


Me da um cigarro?

Não, não, eu acendo ali.

Obrigado... obrigado...


Avô, cuida de mim e da minha mãe.

Os meninos estão bem.


Você não estava lá.


Assim a senhora vai ter que ser amarrada.


Esse moço, acho que ele é meu namorado.

Ele veio aqui com a roupa do corpo,

Mas eu sei que ele é importante.


Gustavo, Gustavo, não!


Porque meu avô é importante,

Ele é desembargador.


Escuta, isso aqui não é delegacia,

É um hospital psiquiátrico.


Boa tarde doutora, ela está em surto

E o psiquiatra recomendou internação.


Me dá um cigarro?


Tem dez anos que eu estou aqui.


Daniel M. Laks

16/11/2009

2 comentários:

diana sandes disse...

a melhor coisa a fazer e tocar um tango argentino...

Mayra Wainstok disse...

Sem palavras... Mentira. É o que eu escolhi para fazer... E escuto isso por prazer.