quarta-feira, 3 de março de 2010

Acho que existem mais silhuetas à noite

Restos de congelados,
Fumos de cigarro
E alguma parte dispersa de mim
Que sempre foge.

A cidade hoje me parece mais cinza,
E alguma coisa disforme e fria
Estende-se à minha sombra,
Até escorrer da própria casca.

Não falo das preocupações cotidianas,
Da crise financeira mundial,
Ou da manchete da primeira página
Com fotos do último homicídio do dia.

Nunca doei ao Criança Esperança,
Não me revoltei com o sofrimento
Das vítimas do terremoto do Haiti,
E percebo que me revolto muito pouco hoje em dia.

Se tivesse olhos negros,
Talvez visse um mundo
Com mais cor de chumbo,
E assim teria mais vontade de gritar.

Mas por algum motivo
Permaneço estático e instável,
Procurando alguma pista
Que me faça entender porque você vai embora.

Daniel M. Laks
03/03/2010

Um comentário:

Mayra Wainstok disse...

Gostei muito!!!

Nunca mais te li... É muito bom ter insônia de vez em quando... Sobra mais tempo para coisas que a gente gosta...