quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Esqueci o nome entre folhas rabiscadas de papel. Eu hoje queria escrever alguma coisa, não sei bem o que. É um movimento muito parecido com ligar a televisão e começar a trocar de canal até encontrar um, ou dois, ou três programas que agradem nos momentos de neblina. O problema é que a caneta teima em suspender o gesto, e minhas veias estão sujas de álcool, e minhas frases tão sujas de tinta. Alguns dias acordam com uma lógica inútil na minha maneira de alienar o dia, como imaginar que graficamente a cor da sombra deveria ser azul, o contrário da luz, ou imaginar o maior número de possíveis metáforas para essa fragmentação do cotidiano que eu passei tanto tempo sem conseguir entender como a estética atual. Eu hoje vim andando pra casa e comecei a reparar nos carros, nas esquinas, nos edifícios e depois de apertar bem os olhos, finalmente consegui enxergar alguma beleza nos pedacinhos estilhaçados. Na verdade, acho que eu deveria escrever algo mais rabiscado, martelar alguns versos antigos, como um quadro na parede ou uma lembrança presentemente indesejada. A ideia de desenhar as letras como quem rasga uma colcha de retalhos me intriga de uma forma sedutora nesse momento.

Daniel M. Laks

12/08/2010

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