Queria escrever um poema calado,
E sufoquei o grito pra ver se escutam minha voz,
Enclausurada nesse verso acidentado, sifilítico e atroz.
Queria falar de tempestade, de automóvel ou de represa.
Dizer que trago areia nos meus olhos de enseada,
E, de repente, dizer pra essa gente que hoje estou de madrugada.
Queria sozinhar pelos cantos,
Dilacerar meus desencantos,
Meus desabraços.
Para ver estilhaçar o traço
Que a asa quebrada da ave desenhou no céu.
Pois hoje acordei esfumaçado e opaco
Como planta carnívora, água salgada ou folha de papel.
Daniel M. Laks
20/08/2010
Um comentário:
Que encantamento... dolorido e delicado, como uns amores que tangem na alma dores que custam a sair.
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