segunda-feira, 6 de julho de 2015



Desculpem-me os bem intencionados, mas não, não somos todos Maju. Não somos todos Maju, porque eu, que sou homem e sou branco não compartilho do mesmo lugar de fala de uma jovem mulher negra. Não somos todos Maju, porque eu nunca saí na rua com medo de ser estuprado. Não somos todos Maju, porque eu nunca fui chamado de macaca. Não somos todos Maju, porque eu nunca fui chamado de preta filha da puta ou de crioula safada. Não somos todos Maju, porque nunca disseram que o meu cabelo é ruim e nunca duvidaram da minha competência dizendo que só cheguei onde cheguei por causa de cotas. Por isso não somos todos Maju. Porque pessoas como eu, por melhor intencionadas que estejam, jamais compartilharão do referencial para entender o que é estar na pele de uma mulher negra no Brasil. Sim, alguns de nós tentamos ser contra o racismo. Eu, pelo menos, tento ser contra o racismo. Mas ser contra o racismo sendo branco é reconhecer que o racismo é um sistema de oportunidades desiguais que permeia todas as nossas relações. E nesse sistema, não sou eu o prejudicado. Dizer que somos todos Maju é fingir que o preconceito nos atinge a todos da mesma maneira. Dizer que somos todos Maju é dizer que não existe racismo ou machismo, enquanto formas institucionalizadas no Brasil, que me enchem de privilégios enquanto desumanizam e subalternizam pessoas como a Maju. Dizer somos todos Maju é não reconhecer as regalias de ser branco num país racista. Dizer somos todos Maju é falsear o nosso próprio lugar de fala e perpetuar a absurda farsa de que vivemos em uma democracia racial onde o que aconteceu com a Maju só existe enquanto exceção. Por isso, não, não somos todos Maju. Eu não falo do mesmo lugar de uma jovem mulher negra, mas do lugar de um homem branco em um país racista chamado Brasil.


Daniel M. Laks
06-07-2015.

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