quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sobre cristais, uvas e vapores

Parece que os dias se misturam

Quando os processos se repetem

Boa tarde, com licença:

Já me cansei do automatismo das relações.


Os homens do bar discutiam futebol,

As pessoas na rua corriam para lugar nenhum,

O menino cheirava cola e pedia dinheiro para comer.


A menina que nunca me beijou

Me deu os versos que escrevi.

Esbocei um sorriso, mas talvez fosse sarcasmo.


Taça de cristal, vinho no gargalo

E os cacos derramados no chão.

Uvas perdem a cor quando lhes tiram a casca.


A moça que eu namorei

Aprendeu que o mundo compra imagens,

Decidiu se vender barato

E virou reflexo.


Não sei se foi a claridade,

Que entrava oblíqua pelo vidro da janela

E rasgava as retinas,

Ou algum desejo intenso dentro de mim.


Se fosse outro dia

Tinha olhado para o lado.

Se fosse outro dia tinha apertado os olhos...

Não era!


Paixões ardentes, vapores e alcalóides.

Os heróis e suas glórias vivem nas páginas dos livros.

Mas hoje eu quero qualquer coisa

Que não entre para os autos da humanidade.


Daniel M. Laks

26/08/2009