sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Brincou de rodar a caneta entre os dedos como se assim conseguisse movimentar a roda dentada de suas ideias. Olhou pros lados tentando imaginar uma melodia qualquer, enquanto apertava os lábios ainda levemente salgados de silêncio. Fechou a mão com a força de quem sufoca deuses ou espreme o último sumo de um pensamento incompleto em busca da primeira linha. Como se puxar a primeira linha fosse desfiar o poema inteiro na folha de papel, ou expor suas costuras mais internas, dessas que podem ser cortadas com tesoura cega ou ponta de canino e pronto, deixaria de se sentir pesado de rascunhos que não cansam de engordar suas esperanças inseguras. Bordou caprichosamente letra por letra um recado que trazia espremido, quase desabotoado do peito: – Rasguei minhas folhas de papel/Porque quero a cidade que existe dentro do teu corpo:/Dos cavalos sem rédeas e tempestades com sede de saliva/Derramadas nas entrelinhas dos nossos olhares desencontrados./ Hoje eu Fliperama/ Decidi sair correndo – em rota de colisão –/Com tudo que é prédio, trânsito, baralho,/Mitologia e blues em mim. –. Depois pousou o carretel delicadamente ao lado da taça de vinho, tomou um gole para colorir o canto da boca de vermelho e riscou á faca toda sua sinceridade da folha de papel. Ultimamente, vêm se dando conta que suas verdades brutas se repetem em elipses digressivas demais para que a intenção irmane o gesto.


Daniel M. Laks
11/02/2011

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