O dia insistia pela fresta da janela,
Projetando na parede o negativo
Das minhas esperanças inseguras.
Fragmentos da noite anterior
Entrelaçavam os dedos
Formando um caleidoscópio digressivo,
Que tingia de combinações de cores
Que não sei o nome,
O sorriso que me escapava aos lábios,
E o desespero não digerido
Que me pressionava o esôfago.
Minhas pernas tremiam
Como entidades alheias ao meu corpo,
No ritmo constante do marcapasso
Que evita as taquiarritmias do meu avô.
Digitais desfocadas
Procuravam o contorno escarpado
Do corpo Dela nos fios do edredom,
Como insetos que buscam
O perfume das flores fora da estação.
A noite havia terminado.
O dia teimava em insistir pela fresta da janela.
E num derradeiro esforço de negar hiatos,
Fechei as cortinas e adormeci.
Daniel M. Laks
22/09/2009
Um comentário:
Como um poema como esse não tem ainda um comentário de admiração?
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