quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Toda a sinceridade de quando se fala de nenhum

Sempre que chego em casa,

Abro as cortinas para que no vértice da janela,

O desenho dos barcos

Possa encontrar o mar.


Sinto como se expusesse a intimidade

De alguém que não sou eu.

Que é uma mistura de uma

Ou duas pessoas que conheço,

Com outra pessoa que não conheço.

E, de repente, me identifico tanto

Com esse que é um, três e nenhum

Que passo a ser nenhum também.


Às vezes acho que minha infância

Se passou em tom pastel,

Ou amarrada nos fios do bordado da minha avó,

Para frente e para trás na cadeira de balanço,

Enquanto eu dobrava os primeiros balões de papel,

E olhava os doces de abóbora que secavam na sombra.


Tudo era real e a realidade não era fluida.

(acho que nunca foi fluida)

Eu não entendia o sotaque social,

Nem tampouco a pele que as pessoas vestiam

Para sair à rua, e despiam ao chegar em casa.

Não sabia escrever, mas já tinha aprendido

A soletrar os meus desejos.


Nunca consegui enxergar uma linha reta

Entre o que fui e o que me tornei.

Sabe, como os barcos na cortina

E o vértice da janela,

Acho que o olhar se perdeu no caminho

E chegou atrasado ao objeto.


Daniel M. Laks

10/09/2009

2 comentários:

ana salek disse...

porra dani, tah muito cinematográfico, ta muito bom, fiquei emocionada

Anônimo disse...

Gosto.