Sempre que chego em casa,
Abro as cortinas para que no vértice da janela,
O desenho dos barcos
Possa encontrar o mar.
Sinto como se expusesse a intimidade
De alguém que não sou eu.
Que é uma mistura de uma
Ou duas pessoas que conheço,
Com outra pessoa que não conheço.
E, de repente, me identifico tanto
Com esse que é um, três e nenhum
Que passo a ser nenhum também.
Às vezes acho que minha infância
Se passou em tom pastel,
Ou amarrada nos fios do bordado da minha avó,
Para frente e para trás na cadeira de balanço,
Enquanto eu dobrava os primeiros balões de papel,
E olhava os doces de abóbora que secavam na sombra.
Tudo era real e a realidade não era fluida.
(acho que nunca foi fluida)
Eu não entendia o sotaque social,
Nem tampouco a pele que as pessoas vestiam
Para sair à rua, e despiam ao chegar em casa.
Não sabia escrever, mas já tinha aprendido
A soletrar os meus desejos.
Nunca consegui enxergar uma linha reta
Entre o que fui e o que me tornei.
Sabe, como os barcos na cortina
E o vértice da janela,
Acho que o olhar se perdeu no caminho
E chegou atrasado ao objeto.
Daniel M. Laks
10/09/2009
2 comentários:
porra dani, tah muito cinematográfico, ta muito bom, fiquei emocionada
Gosto.
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