Escreverei um filho,
E farei uma árvore.
Agora me prefiro mal passado.
Por você sinto muito.
Daniel M. Laks
23/06/2010
A partir de hoje não permito mais que você use meu corpo pra rezar a noite, meus olhos pra chorar durante as manhãs, ou meus dedos para fuzilar palavras. Você com toda a metafísica e o esoterismo, não sabe que eu sou ateu, pacifista urbano e defensor voraz das folhas de papel? Não aturo mais o egoísmo do falseamento do sujeito das suas expressões em pronome pessoal reto singular, porque essa sua insistência numa autocomiseração melancólica reflete diretamente em mim. Não que eu me interesse por literatura, pela dinâmica da transformação das cores, ou qualquer outra bobagem dessas que você respira, mas pelo simples motivo que quando você evapora entre os fios de bordado das suas fantasias inalcançáveis, sou eu que permaneço com os dentes juntos, o rosto tenso e os olhos quase abertos.
Daniel M. Laks
21/06/2010
Acho que quando meus olhos escorreram
Desbotaram um pouco a cor da noite.
Tentei pintar as paredes de vermelho,
Comprei lâmpadas novas pro banheiro,
Mas a lua continuou a murchar
Até desaparecer no arquipélago de estrelas fugazes.
Nesse momento não pensei no movimento das marés,
Não recorri a fotografias, desenhos, pessoas,
Ou qualquer outra coisa descartável.
Era eu criança capturando insetos verdes,
Em potes de maionese furados a faca.
Porque o teatro de sombras só tem graça com muita luz,
E é sempre mais fácil ser confuso que sincero.
Daniel M. Laks
19/06/2010
Nasci numa época sem oráculos,
Sou do signo da ausência de significados restritos.
Nunca encontrei o poço que reflete o céu,
E tenho uma incrível admiração por pequenos insetos,
Seres quase humanos, como nós.
Não possuo cicatrizes de lágrimas,
Ou momentos de desespero eventual.
E nesse momento,
Desejo algum tipo de pureza em mim:
Uma dose para o meu Deus interno
E três pros demônios em volta.
Daniel M. Laks
16/06/2010