Às vezes visito o purgatório dos anjos,
Sempre com um sorriso no rosto.
O tempo é sonâmbulo,
Eu sou insone.
O distanciamento é necessário
Para a visão crítica da realidade.
Por isso me torno marginal,
Com discursos elípticos condensados
Que não aceitam a sintaxe dos compromissos.
O ar é rarefeito e as hemoglobinas insuficientes.
Tenho apenas movimentos furtivos,
Pra recolher pistas e examiná-las em segredo.
Tenho a independência de não interpretar
Os acontecimentos postando-me no centro.
Escrever é escolher, selecionar,
Ser brincante em memória descritiva.
Afinal, caminhar é ter falta de lugar seguro,
E minhas fraquezas são representadas
Pela instabilidade das acomodações.
Talvez algum dia descubra que existem
Verdades obliquas no mundo
Muito além da irmandade entre morte e honra.
Cifras, tempo e versos são elementos polifonais,
E minhas construções cimentadas em
Palafitas de pontos de vista.
Às vezes finjo comunicar o incomunicável:
A universalidade singular
E a singularidade universalizante
Das sombras que compõe o portador da luz.
Mas por agora,
deixe-me apenas passar,
Oferecendo uma exaltação utópica
Àqueles capazes de inferir.
Daniel M. Laks
18/04/2009