sábado, 18 de abril de 2009

Nunca li José Cardoso Pires

Às vezes visito o purgatório dos anjos,

Sempre com um sorriso no rosto.

O tempo é sonâmbulo,

Eu sou insone.


O distanciamento é necessário

Para a visão crítica da realidade.

Por isso me torno marginal,

Com discursos elípticos condensados

Que não aceitam a sintaxe dos compromissos.


O ar é rarefeito e as hemoglobinas insuficientes.

Tenho apenas movimentos furtivos,

Pra recolher pistas e examiná-las em segredo.

Tenho a independência de não interpretar

Os acontecimentos postando-me no centro.


Escrever é escolher, selecionar,

Ser brincante em memória descritiva.

Afinal, caminhar é ter falta de lugar seguro,

E minhas fraquezas são representadas

Pela instabilidade das acomodações.


Talvez algum dia descubra que existem

Verdades obliquas no mundo

Muito além da irmandade entre morte e honra.

Cifras, tempo e versos são elementos polifonais,

E minhas construções cimentadas em

Palafitas de pontos de vista.


Às vezes finjo comunicar o incomunicável:

A universalidade singular

E a singularidade universalizante

Das sombras que compõe o portador da luz.


Mas por agora,

deixe-me apenas passar,

Oferecendo uma exaltação utópica

Àqueles capazes de inferir.


Daniel M. Laks

18/04/2009

2 comentários:

diana sandes disse...

eu digo e você não acredita, agora você diz: escrever é escolher, selecionar. concordou com minha tese ou foi só uma brincadeira poética de vou-aceitar-que-a-poesia-não-sou-eu, que ela é alguma outra coisa que eu quis construir, conscientemente, a partir do que sou eu?
ok, parei :-p

diana sandes disse...

ó que lindo:

Escrever é arriscar tigres
ou algo que arranhe, ralando
o peito na borda do limite
com a mão estendida
até a cerca impossível e farpada
até o erro - é rezar com raiva

(armando freitas filho)