Às vezes visito o purgatório dos anjos,
Sempre com um sorriso no rosto.
O tempo é sonâmbulo,
Eu sou insone.
O distanciamento é necessário
Para a visão crítica da realidade.
Por isso me torno marginal,
Com discursos elípticos condensados
Que não aceitam a sintaxe dos compromissos.
O ar é rarefeito e as hemoglobinas insuficientes.
Tenho apenas movimentos furtivos,
Pra recolher pistas e examiná-las em segredo.
Tenho a independência de não interpretar
Os acontecimentos postando-me no centro.
Escrever é escolher, selecionar,
Ser brincante em memória descritiva.
Afinal, caminhar é ter falta de lugar seguro,
E minhas fraquezas são representadas
Pela instabilidade das acomodações.
Talvez algum dia descubra que existem
Verdades obliquas no mundo
Muito além da irmandade entre morte e honra.
Cifras, tempo e versos são elementos polifonais,
E minhas construções cimentadas em
Palafitas de pontos de vista.
Às vezes finjo comunicar o incomunicável:
A universalidade singular
E a singularidade universalizante
Das sombras que compõe o portador da luz.
Mas por agora,
deixe-me apenas passar,
Oferecendo uma exaltação utópica
Àqueles capazes de inferir.
Daniel M. Laks
18/04/2009
2 comentários:
eu digo e você não acredita, agora você diz: escrever é escolher, selecionar. concordou com minha tese ou foi só uma brincadeira poética de vou-aceitar-que-a-poesia-não-sou-eu, que ela é alguma outra coisa que eu quis construir, conscientemente, a partir do que sou eu?
ok, parei :-p
ó que lindo:
Escrever é arriscar tigres
ou algo que arranhe, ralando
o peito na borda do limite
com a mão estendida
até a cerca impossível e farpada
até o erro - é rezar com raiva
(armando freitas filho)
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