sexta-feira, 24 de abril de 2009

Arestas horizontais

Procurava arestas

Em seus raciocínios circulares.


Sentia cansaço das mentiras que lhe contavam

Com todos os dentes expostos,

Como galeria de telas brancas.


Trazia os calcanhares fixos no chão,

E um pouco da simpatia que lhe negavam

Escorrida e remoldada nos cantos da boca.


Sempre pensou que sua garganta

Rangia duas oitavas abaixo

Do ideologismo pra piano

Encenado nos palcos da cidade:


<<- Ideal seria se nos corroêssemos aos poucos,

Das extremidades até o ser etéreo,

Como acontece com nossas idéias.>>


De repente, suas unhas ruídas

E pontas dos dedos gastas

Parecem reinventar o signo

Fotografado pelo vidro da janela.


A cama do quarto permanecia deitada,

E silenciosamente incapaz

De fornecer conforto

A seu estado desperto.


Caminhou pela casa

Em busca de algum horizonte:


<<-Funcionários públicos não deveriam

Receber diagnóstico de sopro cardíaco,

Problema no coração é coisa de poeta.>>


As cadeiras da sala permaneciam

Sentadas em volta da mesa

Retangular cor da mistura de tintas

Que sempre trouxe consigo,

Mas que já é diferente da que vai com ele.


Daniel M. Laks

24/04/2009

Um comentário:

Anônimo disse...

"Procurava arestas / Em seus raciocínios circulares" Adorei. Gosto do poema todo.