Procurava arestas
Em seus raciocínios circulares.
Sentia cansaço das mentiras que lhe contavam
Com todos os dentes expostos,
Como galeria de telas brancas.
Trazia os calcanhares fixos no chão,
E um pouco da simpatia que lhe negavam
Escorrida e remoldada nos cantos da boca.
Sempre pensou que sua garganta
Rangia duas oitavas abaixo
Do ideologismo pra piano
Encenado nos palcos da cidade:
<<- Ideal seria se nos corroêssemos aos poucos,
Das extremidades até o ser etéreo,
Como acontece com nossas idéias.>>
De repente, suas unhas ruídas
E pontas dos dedos gastas
Parecem reinventar o signo
Fotografado pelo vidro da janela.
A cama do quarto permanecia deitada,
E silenciosamente incapaz
De fornecer conforto
A seu estado desperto.
Caminhou pela casa
Em busca de algum horizonte:
<<-Funcionários públicos não deveriam
Receber diagnóstico de sopro cardíaco,
Problema no coração é coisa de poeta.>>
As cadeiras da sala permaneciam
Sentadas em volta da mesa
Retangular cor da mistura de tintas
Que sempre trouxe consigo,
Mas que já é diferente da que vai com ele.
Daniel M. Laks
24/04/2009
Um comentário:
"Procurava arestas / Em seus raciocínios circulares" Adorei. Gosto do poema todo.
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